quarta-feira, 24 de junho de 2009

AMERICANOS ACUSADOS DE TORTURA NO AFEGANISTÃO

Portugal
Prisioneiros em base dos EUA
no Afeganistão denunciam abusos


Um grupo de homens que passaram pela prisão instalada na base afegã de Bagram, tutelada pelas tropas dos Estados Unidos, denuncia o recurso à tortura e comportamentos de negligência por parte dos efectivos norte-americanos, noticia a BBC. O Pentágono nega as alegações e garante que Bagram "vai ao encontro dos padrões internacionais de custódia".

Vinte e cinco antigos prisioneiros na Base Aérea de Bagram reproduziram à emissora pública britânica relatos de violência física continuada, técnicas de privação de sono e repetidas ameaças com cães. Fizeram-no em entrevistas individuais, respondendo a uma única série de questões. Apenas dois dos entrevistados disseram ter recebido um bom tratamento nas instalações militares norte-americanas.

Segundo a BBC, os homens foram entrevistados ao longo de dois meses um pouco por todo o território do Afeganistão. Capturados entre 2002 e 2008, ao abrigo da "guerra global contra o terrorismo" desencadeada por George W. Bush após os atentados de 11 de Setembro de 2001, os antigos detidos de Bagram foram acusados de colaborar com a al Qaeda e a guerrilha taliban. Alguns foram mesmo tratados como operacionais da organização terrorista de Usama bin Laden.

As narrações das fontes da BBC contêm ingredientes em tudo semelhantes às práticas de abuso e tortura verificadas na prisão iraquiana de Abu Ghraib, que entre Maio de 2004 e Setembro de 2005 valeram condenações a penas de prisão, em tribunais marciais, a dois soldados norte-americanos, Charles Graner e Lynndie England, e a despromoção da brigadeiro general Janis Karpinski para a patente de coronel.

"Eles fizeram coisas que não se fazem a animais"

As alegações incluem abusos de ordem física e psicológica: posições de desgaste físico, sujeição a temperaturas extremas e a sons com volumes intoleráveis, nudez compulsiva diante de militares do sexo feminino; em quatro dos casos, os prisioneiros foram ameaçados com armas de fogo.

"Eles fizeram coisas que não se fazem a animais, quanto mais a seres humanos. Eles atiravam-nos água fria no Inverno e água quente no Verão. Usavam cães. Encostavam-nos pistolas à cabeça e ameaçavam-nos de morte", contou à BBC um antigo detido identificado como doutor Khandan.

Nos últimos oito anos, a Base Aérea de Bagram, localizada a 40 quilómetros a nordeste da capital afegã, Cabul, manteve cativos milhares de homens sem acusação formal, tão-pouco acesso a representação legal. Capturados num limbo do Direito Internacional, os prisioneiros de Bagram - hoje são 600, mas as tropas norte-americanas estão a construir um novo centro de detenção na base - trazem apensa a controversa designação de "combatentes inimigos ilegais". Ao contrário dos homólogos de Guantánamo, estão impedidos de ter advogados.

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