Vinte e cinco antigos prisioneiros na Base Aérea de Bagram reproduziram à emissora pública britânica relatos de violência física continuada, técnicas de privação de sono e repetidas ameaças com cães. Fizeram-no em entrevistas individuais, respondendo a uma única série de questões. Apenas dois dos entrevistados disseram ter recebido um bom tratamento nas instalações militares norte-americanas.
Segundo a BBC, os homens foram entrevistados ao longo de dois meses um pouco por todo o território do Afeganistão. Capturados entre 2002 e 2008, ao abrigo da "guerra global contra o terrorismo" desencadeada por George W. Bush após os atentados de 11 de Setembro de 2001, os antigos detidos de Bagram foram acusados de colaborar com a al Qaeda e a guerrilha taliban. Alguns foram mesmo tratados como operacionais da organização terrorista de Usama bin Laden.
As narrações das fontes da BBC contêm ingredientes em tudo semelhantes às práticas de abuso e tortura verificadas na prisão iraquiana de Abu Ghraib, que entre Maio de 2004 e Setembro de 2005 valeram condenações a penas de prisão, em tribunais marciais, a dois soldados norte-americanos, Charles Graner e Lynndie England, e a despromoção da brigadeiro general Janis Karpinski para a patente de coronel.
"Eles fizeram coisas que não se fazem a animais"
As alegações incluem abusos de ordem física e psicológica: posições de desgaste físico, sujeição a temperaturas extremas e a sons com volumes intoleráveis, nudez compulsiva diante de militares do sexo feminino; em quatro dos casos, os prisioneiros foram ameaçados com armas de fogo."Eles fizeram coisas que não se fazem a animais, quanto mais a seres humanos. Eles atiravam-nos água fria no Inverno e água quente no Verão. Usavam cães. Encostavam-nos pistolas à cabeça e ameaçavam-nos de morte", contou à BBC um antigo detido identificado como doutor Khandan.
Nos últimos oito anos, a Base Aérea de Bagram, localizada a 40 quilómetros a nordeste da capital afegã, Cabul, manteve cativos milhares de homens sem acusação formal, tão-pouco acesso a representação legal. Capturados num limbo do Direito Internacional, os prisioneiros de Bagram - hoje são 600, mas as tropas norte-americanas estão a construir um novo centro de detenção na base - trazem apensa a controversa designação de "combatentes inimigos ilegais". Ao contrário dos homólogos de Guantánamo, estão impedidos de ter advogados.
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