segunda-feira, 9 de julho de 2012

Contraponto 5627 - PSol: Dois pesos e duas medidas


“Elias Vaz tem a confiança do PSOL”
Único senador do PSOL diz que explicações do único vereador do partido em Goiânia sobre ligação com Cachoeira são convincentes e declara voto pela cassação de Demóstenes
Waldemir Barreto/Agência Senado
Renato Dias
Especial para o Jornal Opção
Ele namorou, aos 13 anos de idade o PC do B, mas engatou um romance com o PT. Filho de sindicalista, integrou a geração dos caras pintadas, foi diretor da União Nacional dos Es­tudantes (UNE) e saiu às ruas pelo impeachment de Fernando Collor de Mello, em 1992. Aos 23 anos, em 1998, elegeu-se deputado estadual. Acabou reeleito, em 2002. Com uma plataforma republicana e socialista, virou, em 2010, senador do Amapá. Pelo PSOL de Heloísa Helena (AL). Formado em Direito e História, conta ao Jornal Opçãosofrer influências do marxismo. Mais: revela ser um leitor compulsivo de Eric Hobsbawn e gostar das obras e artigos do historiador da Universidade Federal Fluminense Daniel Aarão Reis Filho. É professor de História Medieval, História Contemporânea e Direito Cons­titucional. Randolph Frederich Rodrigues Alves nasceu há 38 anos em Garanhuns (PE).
O senhor é favorável à cassação de Demóstenes Torres?
Não existem condições, em um âmbito no qual se exigem a ética  e o decoro parlamentar, pa­ra inocentar o senador Demós­tenes Torres. Ele vai apresentar sua defesa no Conselho de Ética, mas não vejo como ele ser inocentado, absolvido.
O humor do plenário, hoje, é para a cassação?
Sim. Hoje eu diria que, no máximo, Demóstenes teria 20 votos favoráveis para a não cassação, enquanto que seriam 60 pela cassação. Contudo, essa visão é referente ao dia de hoje, mas acontece tanta coisa do dia para a noite que tudo é possível.
Quem deve temer a CPI?
Como diz o velho adágio: “só não teme quem não deve”. Quem deve temer a CPI é quem tem a dever, quem está envolvido nos esquemas que aparecem cada vez mais e que vão muito além de Demóstenes Torres e do senhor Carlos Cachoeira. Esquemas que têm como envolvidos, deputados, senadores, prefeituras, governos estaduais e o governo federal. Espero que a CPI realmente seja para valer, porque a exclusão do PSOL da investigação é um sinal de que a CPI já não começa bem.

As provas contra o senador Demóstenes Torres são irrefutáveis?
Do ponto de vista jurídico, acho que o senador deve ter uma sobrevida. Do ponto de vista político, me parece que está claro que houve uma quebra de decoro.
Demóstenes Torres mentiu ao afirmar ao Senado que desconhecia as atividades ilegais de Carlos Cachoeira?
No primeiro pronunciamento que ele fez no Senado quando eclodiu essa crise, momento em que eu estive presente, hipotecando confiança e solidariedade a ele, o senador Demóstenes faltou com a verdade.
O senhor se arrepende de ter hipotecado apoio a Demóstenes Torres, em um primeiro momento?
Não me arrependo, visto que, se isso fosse feito, o Brasil teria de se arrepender de confiar nas pessoas. Eu não posso me arrepender de confiar nas pessoas e de acreditar na política. Agora, a imagem do senador Demóstenes foi sintética e esclarecedora na definição dele próprio. Ele disse para nós, em uma declaração pública, que o Demóstenes não existe mais. E de fato, o De­móstenes que nós conhecíamos e no qual o Brasil confiava não existe mais. Nós demonstrávamos confiança naquela pessoa que transparecia ser honesta, que apontava o dedo para aquele que cometia o delito, que tinha coragem de olhar nos olhos e dizer que alguns políticos não tinham vergonha na cara. Nesse eu não me arrependo de ter confiado.
O escândalo do Carlos Cachoeira matou o personagem criado por Demóstenes Torres de paladino da ética e moralidade?
Concordo com ele: o que nós conhecíamos não existe mais. Isso não quer dizer que ele não sobreviva na política, uma vez que tem tantos políticos por aí com escândalos também. Ele pode inclusive ser inocentado pelo Senado, visto que eu não sei o que é conversado nas noites e madrugadas de Brasília. Essa possibilidade não está descartada. Porém, não será mais possível que ele atue com a mesma postura com que atuava antes no Senado.

As denúncias atingem o governo federal?
Atingem governos, prefeituras e podem até chegar ao governo federal. Esse não é um esquema só de Goiás: os indícios mostram que existem tentáculos por todo o Brasil.
O governador de Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), diz que a crise deve cair no colo de PSDB e DEM. O senhor concorda?
Tem que cair no colo de todos aqueles que estiverem envolvidos, de todos os que estabeleceram negócios com o senhor Carlos Cachoeira. Todos aqueles que têm licitações sob suspeição da empresa Delta, inclusive o senhor Agnelo Queiroz, pois muitas questões relacionadas a ele precisam de uma investigação mais aprofundada.
Por que Lula teria incentivado a criação da CPMI no Congresso Nacional?
Não sei o que o motivou. Es­pero que tenha sido um retorno a também um Lula que nós conhecemos, que não tinha medo de qualquer tipo de investigação. Se foi com esse objetivo, perfeito. Uma CPI para valer vai atingir vários partidos, a não ser que o fato de excluírem o PSOL de participar da CPI, de abordarem algo não determinado, mas quererem diferentes temas, e o fato de excluírem a Delta da citação de investigação sejam indícios de que querem fazer uma investigação seletiva, uma CPI somente para vingança.
Não é a hora de o Congresso Nacional discutir e aprovar a reforma política, inclusive com financiamento público de campanha?
Bastava o financiamento público para resolver todo o resto. Cada vez mais fica claro que a mãe de todas as corrupções são os escusos negócios de financiamento privado que existem nos processos eleitorais.
O PSOL defende o fim do financiamento privado de campanhas?
Sim. Com o financiamento único e exclusivo de campanha e com responsabilização criminal daquele que receber financiamento privado.
Existe a possibilidade de ser aprovada a reforma política para 2014?
Acho difícil, lamentavelmente. Porque quando se penetra na raiz do problema que é o financiamento de campanha, todo mundo tangencia, corre, criminaliza o financiamento público e passa a ideia para a opinião publica de que é um exagero político ainda receber dinheiro para o financiamento de campanha. Como se tudo não estivesse relacionado ao financiamento de campanhas por parte da iniciativa privada. In­clusive, tal modelo torna desigual o processo eleitoral.
As explicações do vereador Elias Vaz no caso Cachoeira convenceram a direção do PSOL?
Ampla e totalmente. Não é crime conhecer alguém, o crime é ter relação estável com a contravenção e negócio escuso. O que o Elias fez foi exatamente o inverso. Ele denunciou negócios da Prefeitura de Goiânia com a Delta e participou de um encontro intermediado pela Prefeitura. Ele não sabia da presença, naquele encontro, do senhor Carlos Cachoeira. Estão tentando colocar o Elias na vala comum com todos os candidatos para, na prática, possibilitarem a perpetuação política do poder em Goiás da­queles setores que sempre governaram. Não vão conseguir, porque temos confiança no Elias, aceitamos todos os esclarecimentos prestados por ele. E ele não poderia ser cúmplice, uma vez que ele apenas exerceu o papel de denunciar o ato ilícito.

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