Tribuna do Planalto
Elias Vaz vira fardo para
esquerda
Gravações revelam que Cachoeira pediu favor a vereador. Ala do partido defende afastamento provisório, mas há quem ainda o defenda
A situação política do vereador
Elias Vaz (PSOL) se complicou ainda mais nos últimos dias. À medida que novas
escutas da Polícia Federal em relação à Operação Monte Carlo vazam fica cada
vez mais complicado para o vereador sustentar sua versão de que não mantinha
nenhum tipo de ligação com o chefe da máfia dos caça-níqueis Carlos Augusto
Ramos, o Carlinhos Cachoeira.
Sem apresentar esclarecimentos a
respeito das últimas ligações, Elias vê sua candidatura a prefeitura de Goiânia
ir por água abaixo e sua influência junto ao PSOL desmoronar enquanto uma ala
pede junto à Comissão de Ética da legenda o afastamento temporário do político
de suas funções partidárias, até que a relação do vereador com Cachoeira seja
investigada. Com os problemas envolvendo seu nome, o vereador deve lutar agora
para se manter na legenda.
Ligação direta
Na última semana vazou o áudio de uma ligação
direta entre Cachoeira e Elias Vaz, em que o bicheiro pede ajuda do vereador
para explicar ao jornalista Jorge Kajuru que o mesmo não receberia mais
“ajuda”, provavelmente patrocínio, em virtude de supostos problemas
financeiros. Na gravação publicada no blog do jornalista Cleuber Carlos,
Cachoeira pede “uma ajuda” ao vereador, que o atende prontamente.
Reportagem do portal Brasil 247 chegou a apontar
Elias Vaz como um dos representantes do esquema de Carlos Cachoeira dentro da
Câmara Municipal. De acordo com o site, o vereador teria denunciado
irregularidades em relação à execução das obras do Parque Mutirama no mesmo
período em que o delegado da Polícia Federal de Goiás Fernando Antônio Hereda
Byron Filho foi flagrado em conversas com o contraventor. Ainda segundo a
reportagem, haveria na Câmara Municipal uma “bancada pró-Cachoeira” para
favorecer os esquemas da quadrilha do bicheiro.
Em sua defesa, Elias Vaz publicou nota e foi à
imprensa afirmando que o site havia publicado mentiras a seu respeito e que o
vereador “jamais teria se corrompido”. Em sua página oficial na internet, Elias
afirma que se trata de calúnias plantadas pelo Partido dos Trabalhadores contra
sua imagem. Conhecido por seu perfil denuncista e investigador, o vereador do
PSOL é tido como um dos mais ferrenhos oposicionistas ao prefeito de Goiânia
Paulo Garcia (PT)
PSOL dividido
Na última quinta-feira, 26, lideranças do PSOL
publicaram nota se posicionando em relação ao caso Cachoeira e mais precisamente
sobre o suposto envolvimento do bicheiro com Elias Vaz. O documento assinado
por 11 lideranças do partido propõe junto à direção nacional da legenda uma
representação solicitando que Elias explique as conversas gravadas pela Polícia
Federal. As lideranças em questão parecem não satisfeitas com as explicações
dadas nas últimas semanas.
“Desde o início da Operação Monte Carlo, temos tentado com muita paciência, acompanhar os fatos e desdobramentos da mesma na política de Goiás. Inicialmente o vereador Elias Vaz admitiu a um jornalista de O Popular que conhecia o bicheiro Carlos Cachoeira, pois o mesmo transitava nos círculos políticos de Goiânia, mas não tinha qualquer envolvimento com o mencionado contraventor”, relataram os militantes em nota.
Ainda segundo eles, em um primeiro momento o
partido acreditava que as denúncias tinham viés político e teriam vindo das
esferas de poder na capital e no Estado, representadas pelo PT e pelo
PSDB. Ainda de acordo com a nota, os militantes decidiram pedir o afastamento
do vereador “diante dos últimos acontecimentos”.
Um dos filiados que assinou a nota, Fernando Leite explicou à Tribuna que o pedido de representação enviado à Comissão de Ética do partido não diz respeito a um julgamento de Elias, e que o afastamento dele tem como intuito a apuração das denúncias e esclarecimento dos fatos.
Apesar da manifestação pública de uma ala do
partido, nem todos no PSOL defendem o afastamento de Elias para que o mesmo
preste esclarecimentos à legenda e à sociedade. Questionado a respeito do
envolvimento do vereador com o caso Cachoeira, Martiniano Cavalcanti – que
inclusive já foi candidato à Prefeitura de Goiânia – disse não saber do que se
trata. Por telefone, antes de desligar o telefone abruptamente, ele gritou e questionou:
“Quem falou isso? Você precisa falar com o Paulo Garcia”.
Com amplo currículo na esquerda brasileira,
incluindo coordenação da campanha de Heloísa Helena à presidência da República
e tendo obtido expressiva votação para o Senado em 2002, com cerca de 270 mil
votos em Goiás, Martiniano é conhecido por se levantar contra o capitalismo e
na luta de base sempre exerceu papel de fiscalizador, cobrando agentes públicos
e partidos políticos. Entretanto, o mesmo não se manifestou em relação a
denúncias que vieram de dentro de suas próprias bases e que atingem o principal
nome da legenda em Goiás e seu aliado histórico.
Como resposta à nota, Martiniano Cavalcante publicou, sexta-feira, 27, no site do partido uma carta rechaçando o movimento do grupo de militantes do PSOL, alegando que os mesmos agiram “insidiosamente ” contra o vereador Elias Vaz. Ele defende que o vereador sofre ataques sistemáticos por parte dos partidos que compõem os governos de Goiânia e de Goiás.
Em relação ao grupo que publicou a nota pedindo o afastamento do vereador de suas funções no PSOL, Martiniano afirmou que se trata de um grupo “que há muitos anos faz oposição sistemática ao vereador”, agindo de modo “irresponsável como as lideranças ligadas ao prefeito Paulo Garcia e o governador Marconi Perillo”. Na opinião dele, Elias sofre ataques de todos os lados porque exerce um mandato “brilhante” na Câmara.
Em Goiás, o PSOL é conhecido por divisão interna – o que fica ainda mais evidente com os últimos acontecimentos, em que o partido não consegue articular uma ação única e acaba favorecendo o que a Tribuna constatou nos últimos dias. Alegando não ter recebido nenhum documento, na última quinta-feira a direção nacional do partido preferiu não falar a respeito do caso por se tratar de denúncias que ainda não foram julgadas.
Contraditoriamente, o mesmo partido que não quis
falar sobre as denúncias ainda não julgadas em relação ao vereador e presidente
do diretório do PSOL em Goiânia, se utilizou do programa eleitoral transmitido
em rede nacional também na quinta-feira, 26, para atacar outros partidos e
pedir que a população conte com o PSOL para o combate à corrupção e apurar o
caso Cachoeira.
O Diálogo
- Apesar de constantes afirmações
de que Cachoeira é apenas um “conhecido”, vereador Elias Vaz (PSOL) se dispõe a
ajudar o bicheiro em relação a “ajuda” financeira dada pelo bicheiro ao
jornalista Jorge Kajuru. A ligação foi interceptada pela Polícia Federal no dia
04 de julho de 2011. Confira a transcrição do áudio:
* ELIAS: Companheiro.
* CACHOEIRA: Elias, tá bom?
* ELIAS: Beleza.
* CACHOEIRA: Queria pedir uma ajuda pra você ai.
* ELIAS: Certo.
* CACHOEIRA: Aquele negócio lá do Kajuru, po. Fala pra ele que não dá mais não, eu tô cheio de conta ai, tá?
* ELIAS: Eu vou falar com ele.
* CACHOEIRA: Você liga pra ele?
* ELIAS: Ligo.
* CACHOEIRA: E assim que eu desafogar eu volto a ajudar ele, mas por enquanto não vai dar não, tá?
* ELIAS: Tá bom, eu falo com ele.
* CACHOEIRA: Brigado.
* ELIAS: Tchau.
* CACHOEIRA: Elias, tá bom?
* ELIAS: Beleza.
* CACHOEIRA: Queria pedir uma ajuda pra você ai.
* ELIAS: Certo.
* CACHOEIRA: Aquele negócio lá do Kajuru, po. Fala pra ele que não dá mais não, eu tô cheio de conta ai, tá?
* ELIAS: Eu vou falar com ele.
* CACHOEIRA: Você liga pra ele?
* ELIAS: Ligo.
* CACHOEIRA: E assim que eu desafogar eu volto a ajudar ele, mas por enquanto não vai dar não, tá?
* ELIAS: Tá bom, eu falo com ele.
* CACHOEIRA: Brigado.
* ELIAS: Tchau.
Pré-candidata, Marta Jane luta para unir PCB a PSTU
e Psol
Ainda sem um posicionamento
oficial em relação às denúncias que sacudiram o Estado envolvendo a relação de
políticos a Cachoeira, o PCB adotou a postura de cautela e preferiu esperar um
posicionamento do PSOL em relação ao caso Elias Vaz para que possa se manifestar.
Evitando o assunto, a principal líder política do PCB, Marta Jane, afirmou que
se trata de uma questão complicada, mas que o partido irá emitir um parecer
ainda nos próximos dias.
Entusiasta da frente de esquerda
em Goiânia, Marta disse que nem tudo está perdido e que PSOL, PCB e PSTU podem
se unir em torno de um projeto único. Até o momento, sabe-se que PCB e PSTU
estão compromissados em torno de um projeto e com os últimos acontecimentos, o
processo de negociação teria sido paralisado no PSOL.
Apesar de ter colocado sua
pré-candidatura e ter tido amplo apoio dentro do PSOL, Elias Vaz não teria
imposto sua candidatura ao PCB. Segundo Marta Jane os nomes não chegaram sequer
a serem discutidos e os encontros tiveram como foco principal o debate de
ideias para que se chegasse a um consenso às amplas visões de esquerda.
“Eu sou pré-candidata desde o início. Mas antes disso queremos a frente de
esquerda, queremos popularizar o debate”, disse ela.
Nos bastidores fala-se que a
posição do PSOL frente ao envolvimento de Elias com Cachoeira seria
determinante para que a coligação entre os dois partidos venham de fato
ocorrer. A esquerda goianiense teme que caso não seja tomada uma decisão
dura de apuração dos fatos, o discurso de luta popular e os perfis políticos
que conquistaram espaço frente à sociedade caiam em descrédito.
Corre também a informação de que
PSTU, PCB e a ala mais esquerdista do PSOL lance um manifesto conjunto em
relação ao envolvimento de políticos goianos no esquema criminoso do bicheiro.
A forma como o PSOL se posicionar nos próximos dias terá impacto na política
destes partidos na próxima eleição. Há quem veja que apesar dos problemas, o
partido pode sair mais forte desse caso e venha se reestruturar e aglutinar
forças. (P.C.)
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