segunda-feira, 9 de julho de 2012

Contraponto 5629 - PSol e o fardo


Tribuna do Planalto

Elias Vaz vira fardo para esquerda

Gravações revelam que Cachoeira pediu favor a vereador. Ala do partido defende afastamento provisório, mas há quem ainda o defenda

A situação política do vereador Elias Vaz (PSOL) se complicou ainda mais nos últimos dias. À medida que novas escutas da Polícia Federal em relação à Operação Monte Carlo vazam fica cada vez mais complicado para o vereador sustentar sua versão de que não mantinha nenhum tipo de ligação com o chefe da máfia dos caça-níqueis Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. 
Sem apresentar esclarecimentos a respeito das últimas ligações, Elias vê sua candidatura a prefeitura de Goiânia ir por água abaixo e sua influência junto ao PSOL desmoronar enquanto uma ala pede junto à Comissão de Ética da legenda o afastamento temporário do político de suas funções partidárias, até que a relação do vereador com Cachoeira seja investigada. Com os problemas envolvendo seu nome, o vereador deve lutar agora para se manter na legenda.
Ligação direta
Na última semana vazou o áudio de uma ligação direta entre Cachoeira e Elias Vaz, em que o bicheiro pede ajuda do vereador para explicar ao jornalista Jorge Kajuru que o mesmo não receberia mais “ajuda”, provavelmente patrocínio, em virtude de supostos problemas financeiros. Na gravação publicada no blog do jornalista Cleuber Carlos, Cachoeira pede “uma ajuda” ao vereador, que o atende prontamente.

Reportagem do portal Brasil 247 chegou a apontar Elias Vaz como um dos representantes do esquema de Carlos Cachoeira dentro da Câmara Municipal. De acordo com o site, o vereador teria denunciado irregularidades em relação à execução das obras do Parque Mutirama no mesmo período em que o delegado da Polícia Federal de Goiás Fernando Antônio Hereda Byron Filho foi flagrado em conversas com o contraventor. Ainda segundo a reportagem, haveria na Câmara Municipal uma “bancada pró-Cachoeira” para favorecer os esquemas da quadrilha do bicheiro.

Em sua defesa, Elias Vaz publicou nota e foi à imprensa afirmando que o site havia publicado mentiras a seu respeito e que o vereador “jamais teria se corrompido”. Em sua página oficial na internet, Elias afirma que se trata de calúnias plantadas pelo Partido dos Trabalhadores contra sua imagem. Conhecido por seu perfil denuncista e investigador, o vereador do PSOL é tido como um dos mais ferrenhos oposicionistas ao prefeito de Goiânia Paulo Garcia (PT)

PSOL dividido
Na última quinta-feira, 26, lideranças do PSOL publicaram nota se posicionando em relação ao caso Cachoeira e mais precisamente sobre o suposto envolvimento do bicheiro com Elias Vaz. O documento assinado por 11 lideranças do partido propõe junto à direção nacional da legenda uma representação solicitando que Elias explique as conversas gravadas pela Polícia Federal. As lideranças em questão parecem não satisfeitas com as explicações dadas nas últimas semanas.

“Desde o início da O­peração Monte Carlo, temos tentado com muita paciência, acompanhar os fatos e desdobramentos da mesma na política de Goiás. Inicialmente o vereador Elias Vaz admitiu a um jornalista de O Popular que conhecia o bicheiro Carlos Cachoeira, pois o mesmo transitava nos círculos políticos de Goiânia, mas não tinha qualquer envolvimento com o mencionado contraventor”, relataram os militantes em nota.

Ainda segundo eles, em um primeiro momento o partido acreditava que as denúncias tinham viés político e teriam vindo das esferas de poder na capital e no Estado, representadas pelo PT e pelo PSDB.  Ainda de acordo com a nota, os militantes decidiram pedir o afastamento do vereador “diante dos últimos acontecimentos”. 

Um dos filiados que assinou a nota, Fernando Leite explicou à Tribuna que o pedido de representação enviado à Comissão de Ética do partido não diz respeito a um julgamento de Elias, e que o afastamento dele tem como intuito a apuração das denúncias e esclarecimento dos fatos.

Apesar da manifestação pública de uma ala do partido, nem todos no PSOL defendem o afastamento de Elias para que o mesmo preste esclarecimentos à legenda e à sociedade. Questionado a respeito do envolvimento do vereador com o caso Cachoeira, Martiniano Cavalcanti – que inclusive já foi candidato à Prefeitura de Goiânia – disse não saber do que se trata. Por telefone, antes de desligar o telefone abruptamente, ele gritou e questionou: “Quem falou isso? Você precisa falar com o Paulo Garcia”.

Com amplo currículo na esquerda brasileira, incluindo coordenação da campanha de Heloísa Helena à presidência da República e tendo obtido expressiva votação para o Senado em 2002, com cerca de 270 mil votos em Goiás, Martiniano é conhecido por se levantar contra o capitalismo e na luta de base sempre exerceu papel de fiscalizador, cobrando agentes públicos e partidos políticos. Entretanto, o mesmo não se manifestou em relação a denúncias que vieram de dentro de suas próprias bases e que atingem o principal nome da legenda em Goiás e seu aliado histórico. 

Como resposta à nota, Martiniano Cavalcante publicou, sexta-feira, 27, no site do partido uma carta rechaçando o movimento do grupo de militantes do PSOL, alegando que os mesmos agiram “insidiosamente ” contra o vereador Elias Vaz. Ele defende que o vereador sofre ataques sistemáticos por parte dos partidos que compõem os governos de Goiânia e de Goiás.
Em relação ao grupo que publicou a nota pedindo o afastamento do vereador de suas funções no PSOL, Martiniano afirmou que se trata de um grupo “que há muitos anos faz oposição sistemática ao vereador”, agindo de modo “irresponsável como as lideranças ligadas ao prefeito Paulo Garcia e o governador Marconi Perillo”. Na opinião dele, Elias sofre ataques de todos os lados porque exerce um mandato “brilhante” na Câmara.  

Em Goiás, o PSOL é conhecido por divisão interna – o que fica ainda mais evidente com os últimos acontecimentos, em que o partido não consegue articular uma ação única e acaba favorecendo o que a Tribuna constatou nos últimos dias. Alegando não ter recebido nenhum documento, na última quinta-feira a direção nacional do partido preferiu não falar a respeito do caso por se tratar de denúncias que ainda não foram julgadas.

Contraditoriamente, o mesmo partido que não quis falar sobre as denúncias ainda não julgadas em relação ao vereador e presidente do diretório do PSOL em Goi­ânia, se utilizou do programa eleitoral transmitido em rede nacional também na quinta-feira, 26, para atacar outros partidos e pedir que a população conte com o PSOL para o combate à corrupção e apurar o caso Cachoeira.

O Diálogo


- Apesar de constantes afirmações de que Cachoeira é apenas um “conhecido”, vereador Elias Vaz (PSOL) se dispõe a ajudar o bicheiro em relação a “ajuda” financeira dada pelo bicheiro ao jornalista Jorge Kajuru. A ligação foi interceptada pela Polícia Federal no dia 04 de julho de 2011. Confira a transcrição do áudio:
* ELIAS: Companheiro.
* CACHOEIRA: Elias, tá bom?
* ELIAS: Beleza.
* CACHOEIRA: Queria pedir uma ajuda pra você ai.
* ELIAS: Certo.
* CACHOEIRA: Aquele negócio lá do Kajuru, po. Fala pra ele que não dá mais não, eu tô cheio de conta ai, tá?
* ELIAS: Eu vou falar com ele.
* CACHOEIRA: Você liga pra ele?
* ELIAS: Ligo.
* CACHOEIRA: E assim que eu desafogar eu volto a ajudar ele, mas por enquanto não vai dar não, tá?
* ELIAS: Tá bom, eu falo com ele.
* CACHOEIRA: Brigado.
* ELIAS: Tchau.


Pré-candidata, Marta Jane luta para unir PCB a PSTU e Psol
Ainda sem um posicionamento oficial em relação às denúncias que sacudiram o Estado envolvendo a relação de políticos a Cachoeira, o PCB adotou a postura de cautela e preferiu esperar um posicionamento do PSOL em relação ao caso Elias Vaz para que possa se manifestar. Evitando o assunto, a principal líder política do PCB, Marta Jane, afirmou que se trata de uma questão complicada, mas que o partido irá emitir um parecer ainda nos próximos dias.
Entusiasta da frente de esquerda em Goiânia, Marta disse que nem tudo está perdido e que PSOL, PCB e PSTU podem se unir em torno de um projeto único. Até o momento, sabe-se que PCB e PSTU estão compromissados em torno de um projeto e com os últimos acontecimentos, o processo de negociação teria sido paralisado no PSOL. 
Apesar de ter colocado sua pré-candidatura e ter tido amplo apoio dentro do PSOL, Elias Vaz não teria imposto sua candidatura ao PCB. Segundo Marta Jane os nomes não chegaram sequer a serem discutidos e os encontros tiveram como foco principal o debate de ideias para que se chegasse a um consenso  às amplas visões de esquerda. “Eu sou pré-candidata desde o início. Mas antes disso queremos a frente de esquerda, queremos popularizar o debate”, disse ela.
Nos bastidores fala-se que a posição do PSOL frente ao envolvimento de Elias com Cachoeira seria determinante para que a coligação entre os dois partidos venham de fato ocorrer.  A esquerda goianiense teme que caso não seja tomada uma decisão dura de apuração dos fatos, o discurso de luta popular e os perfis políticos que conquistaram espaço frente à sociedade caiam em descrédito. 
Corre também a informação de que PSTU, PCB e a ala mais esquerdista do PSOL lance um manifesto conjunto em relação ao envolvimento de políticos goianos no esquema criminoso do bicheiro. A forma como o PSOL se posicionar nos próximos dias terá impacto na política destes partidos na próxima eleição. Há quem veja que apesar dos problemas, o partido pode sair mais forte desse caso e venha se reestruturar e aglutinar forças. (P.C.)

Nenhum comentário:

Postar um comentário