Produtores rurais brasileiros são assassinados
na fronteira paraguaia com o Brasil
Operário de máquinas e proprietário
de terras foram mortos respectivamente na quinta e na sexta-feira, ambos a
tiros
Lisandra Paraguassu, O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - Dois produtores rurais brasileiros foram
assassinados nos últimos três dias na região paraguaia que faz fronteira com o
Brasil. Osni de Oliveira era operário de máquinas na fazenda arrendada pelo
brasileiro Toninho Baggio e foi morto na última quinta-feira com um tiro na
cabeça em Azotey, no departamento de Concepción, próximo à fronteira com o Mato
Grosso do Sul. Tadeu Fratzen foi assassinado com oito tiros na noite de
sexta-feira ao sair de um bar na cidade de Santa Maria del Monday, próxima a Ciudad
del Este, onde tinha terras.
O Itamaraty confirmou a primeira morte, mas no
início da tarde de sábado ainda não tinha sido comunicado do assassinato de
Fratzen. O setor consular da embaixada em Assunção e o consulado em Ciudad del
Este foram acionados e estão acompanhando as investigações, mas por enquanto
não há contato entre os governos brasileiro e paraguaio. O estranhamento
causado pelo impeachment de Fernando Lugo e a subsequente suspensão do Paraguai
do Mercosul congelou as relações entre os dois governos e não houve nenhum tipo
de conversa entre as chancelarias dos dois países.
O Itamaraty, no entanto, informa que acompanha o
caso para ver se os assassinatos são crimes comuns ou tem alguma relação com o
fato dos mortos serem os chamados "brasiguaios", brasileiros donos de
terras no Paraguai ou trabalhadores dessas terras.
De acordo com o jornal paraguaio ABC Color, o
governo do País acusa o Exército do Povo Paraguaio (EPP) de ser responsável
pelo primeiro caso, na morte de Osni de Oliveira. O grupo teria entrado na
fazenda, prendido três trabalhadores e posto fogo em algumas máquinas
agrícolas. Antes de irem embora, mataram Osni.
Já Fratzen foi abordado por dois homens em uma moto
sem placas ao sair de um bar e ir em direção ao seu carro, segundo relatos do
jornal ABC Color. Levou oito tiros e morreu na hora. A polícia paraguaia não
tem pistas de quem são os homens, mas acredita ser um caso de execução, já que
nada foi roubado.
A violência no campo no Paraguai vem aumentando nos
últimos anos, especialmente depois das dificuldades encontradas por Fernando
Lugo para fazer a reforma agrária que prometeu em sua campanha para presidente
diante da enorme resistência dos donos de terras. A morte de 17 pessoas - 6
policiais e 11 agricultores sem-terra - há pouco mais de duas semanas na
desocupação de uma fazenda invadida - piorou ainda mais o quadro e serviu de
argumento para a deposição de Lugo. O Congresso, tomado pelos partidos de
oposição, acusou o presidente de não cumprir com suas obrigações e ser responsável
pelas mortes.
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